Chorume, terceiro espetáculo da trilogia Placas Tectônicas, se origina no desejo de representar no palco aspectos da vida que não apareçam na imediata jurisdição do teatro. A peça traz o destemor de olhar para abismos e horrores do nosso tempo, mas, ainda assim, permite que o humor e a comicidade brotem mesmo nas situações mais terríveis, acreditando na potência que a comédia tem de denunciar, com incomparável contundência, os absurdos do real. Numa encenação de soluções visuais impactantes que acompanham os deslocamentos de sua dramaturgia, Chorume extrai matéria-prima do lixo (das relações humanas, da linguagem, da falência das instituições) para erguer um espetáculo que recusa o escapismo e propõe ao espectador que ele fique atento à ideia de estar vivo, aqui e agora – com todo o desamparo e as possibilidades de transformação inerentes.
“Chorume, o suco do lixo, o resíduo, o restante, o descarte, a rima remota, o rebote, o aroma do ato falho, a água do aterro, o erro, a sobra feliz dos destroços, os ossos, o suprassumo dos enganos humanos, o cocô do cavalo do bandido, o dito pelo não dito, a sombra da caçamba em chamas, a reciclagem das palavras planas, o perene gene do desassossego, o degredo, o amor intransigente por migalhas, as falhas, o refúgio prodigioso dos canalhas, as tralhas, o adubo infalível da miséria, o exílio inevitável de Medeia, o espelho dos porões de uma plateia, o extra, o anti, o estorvo, o anormal, o nunca e o nem a pau, o nu em pelo, o deslize sem apelo, o desvio do novelo, os restos, as raspas, o excerto, o estrume, mistérios movediços de um perfume, chorume.”
Sobre o autor
Vinicius Calderoni nasceu em 1985, em São Paulo, e tem desenvolvido sua carreira entre o teatro, a música e o audiovisual. Em 2010, fundou, junto com Rafael Gomes, a companhia Empório de Teatro Sortido. Escreveu e dirigiu Não nem nada (2014), pelo qual foi indicado ao Prêmio Shell de melhor autor, e Ãrrã (2015), que lhe rendeu o Prêmio Shell de melhor autor. Escreveu ainda a peça Os arqueólogos (2016), dirigida por Rafael Gomes, vencedora do prêmio APCA de melhor autor e indicada ao Prêmio Shell na mesma categoria. Calderoni integra o coletivo 5 a Seco, que lançou os álbuns Ao vivo no Auditório Ibirapuera (2012) (indicado ao Prêmio da Música Brasileira na Categoria Melhor Grupo de MPB) e Policromo (2014). Também lançou dois álbuns solo, Tranchã (2007) e Para abrir os paladares (2013), e é parceiro de importantes compositores como Lenine, Tó Brandileone e Celso Viáfora. Formado em Cinema pela FAAP, foi montador de Os sapatos de Aristeu (2008), de Luiz René Guerra, filme vencedor de mais de 50 prêmios no Brasil e no exterior. Também foi roteirista e redator final da série De perto ninguém é normal (GNT) e do quadro “Massaroca”, exibido dentro do programa Metrópolis (TV Cultura). Como ator, esteve nos filmes Mãe só há uma (2016), de Anna Muylaert, Um namorado para minha mulher (2016), de Júlia Rezende, e na série Louco por elas (TV Globo), com direção-geral de João Falcão.
Sobre a coleção
A Coleção Dramaturgia publica, desde 2012, textos de dramaturgos da cena teatral brasileira e internacional. Os livros colaboram com o debate e a construção da memória do teatro do nosso tempo, marcando um novo registro do cenário da dramaturgia contemporânea. Em 2015, a Cobogó lançou ainda a Coleção Dramaturgia Espanhola, mais tarde a Coleção Dramaturgia Francesa (2019) e a Coleção Dramaturgia Holandesa (2022). A Coleção Dramaturgia possui mais de 100 títulos publicados, diversas peças premiadas, de mais de 70 importantes autores teatrais.
Ficha Técnica
Coleção Coleção Dramaturgia
Autor Vinicius Calderoni
Idioma Português
Páginas 104
ISBN 9788555910357
Capa Laura Del Rey
Encadernação Brochura
Formato 13 x 19 cm
Ano 2017